Okja, a jogada mais arriscada da Netflix
Okja é uma daquelas apostas que a Netflix faz de tempos em tempos, dessa vez com um pé no ótimo mercado Sul Coreano de cinema, sobre um superporco desenvolvido por uma empresa alimentícia e uma menina coreana que tem um relacionamento de irmãos com o animal.
Dez anos depois de ser enviado para a Coréia do Sul o superporco Okja precisa voltar para sua casa original, e o enredo foca no sofrimento da separação dos dois com pitadas de ativismo vegetariano.
A Netflix lançou o filme durante o festival de Cannes para validar a idéia de cinema, mas deu um erro na exibição no primeiro dia e o público vaiou, e muita gente sugeriu que se você quer assistir a um produto da Netflix a maneira certa é esperar e ver em casa.
Independente disso, Okja é um filme interessante, do diretor Joon-Ho Bong, que se destacou com Memórias de um Assassino (Salinui chueok, 2003), um dos melhores filmes policiais deste século.
É dele também Mother – A Busca Pela Verdade (Madeo, 2009), um drama sensacional com pitadas de horror, e O Hospedeiro (Gwoemul, 2006), um filme de monstro um tanto fora dos padrões.
Ele ganhou o mundo mesmo com O Expresso do Amanhã (Snowpiercer, 2013), seu primeiro trabalho completamente direcionado para o mercado americano, uma fantasia futurística com ar de história em quadrinhos que não é a coisa mais espetacular do mundo mas que cumpre bem o seu papel de entreter o público.
Okja é um filme meio fora da curva na carreira dele. O problema nem é roteiro com aquele discurso estabelecido sobre a crueldade com os animais, ou mesmo a pegada meio piegas, o problema é que Bong fez um produto que fica no meio do caminho.
Se tentarmos entender como um filme infantil, por causa da óbvia pegada “Mamãe eu quero ser Hayao Miyazaki e fazer minha própria versão de Meu Amigo Totoro“, ele falha pois é violento demais para crianças e conto de fadas demais para adultos.
Deixa eu esclarecer: Okja é o primeiro grande filme da Netflix. Não é absolutamente original mas é bonitinho e entrega uma mensagem final poderosa que vai fazer o público carnívoro pensar por uns cinco minutos o quão brutal é o consumo de carne pelos seres humanos.
Joon-Ho Bong é um ótimo diretor com uma capacidade ímpar de contar histórias. Mas Okja parece patinar nas suas melhores idéias, parece ser ocidental demais para os elementos orientais propostos e flerta mais com as fórmulas quadradinhas de Hollywood que com a criatividade do cinema coreano.
A computação gráfica do superporco não é perfeita mas é quase, e o ser digital rouba a cena enquanto os atores de carne e osso deixam a desejar. Seo-Hyun Ahn, que interpreta a coreaninha que cria uma relação de irmandade com Okja é uma fofa, mas a sua presença na tela se perde com o desenvolver da história.
Tilda Swinton faz Lucy, uma personagem caricata demais, pra variar, a chefona dona de Mirando, a tal empresa do Mal. Paul Dano costuma ser um bom ator, mas naturalmente tem aquela cara de nada que o deixou famoso, e essa cara de nada prevalece no papel de Jay, o chefe de uma organização eco-ativista que tem o objetivo de salvar Okja das mãos de Mirando.
E temos Jake Gyllenhaal. Pois é. Jake Gyllenhaal.
Jake Gyllenhaal interpreta Johnny Wilcox, um daqueles especialistas em animais que a gente vê nos programas de televisão aos domingos e que foi escolhido para ser a imagem da empresa Mirando pelo mundo.
Nos últimos anos o sujeito entregou interpretações absolutamente geniais em Animais Noturnos (Nocturnal Animals, 2016), Zodíaco (Zodiac, 2007), Os Suspeitos (Prisoners, 2013) e O Homem Duplicado (Enemy, 2013), pra fazer uma lista curta.
Mas em Okja eu fiquei com uma dúvida: sua interpretação é genial ou terrível? Sempre que ele aparecia na tela eu me perguntava pra quê aquilo? Qual era a motivação do diretor ao pedir para ele interpretar daquela maneira? Aquela porra foi proposital, gente!
A interpretação dele é o reflexo do tom do filme. Seria Okja um produto arriscado demais para o público da Netflix? Se bem que a Netflix pode bancar, e eu gosto dessa coisa de permitir espaço para riscos, dêem certo ou não, e isso é um ponto para a Netflix.
Continuo fã de Joon-Ho Bong, seus trabalhos anteriores são geniais, incríveis, motherfucker e merecem ser vistos. Mas Okja tem alguma coisa errada, é um filme que flerta com a anarquia e entrega uma mensagem fofa e terrível ao mesmo tempo.
Fofo demais em alguns momentos, pesado demais em outros. E com a porra do Jake Gyllenhaal!
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