CRÍTICA – ANTOLOGIA DA PANDEMIA

2020 é o ano em que um vírus parou o planeta. Em meio à quarentena e à incerteza sobre o futuro, o Fantaspoa criou um concurso para cineastas criarem suas histórias da pandemia – em suas casas, com os recursos disponíveis. Essa antologia reúne os 13 curtas mais criativos produzidos, capturando esse momento que, se a humanidade tiver sorte, nunca se repetirá. Para saber mais dessa iniciativa acesse a matéria postada aqui no site no dia 5 de Agosto.

Limitando as história a serem gravadas, se cria uma variedade de opções para os realizadores explorarem em suas narrativas. Há alguns que se utilizam de vertentes para o próprio vírus já existente, em cenários pessimistas e fictícios. Outros se focam no confinamento em si das pessoas, recomendado pela quarentena necessária em tempos de pandemia.

Claro, por ter essa limitação de história, há também uma limitação de recursos e cenários utilizados. Gravações abaixo do padrão, assim como atuações podem derivar de terem partido de pessoas com nenhuma ou pouca experiência nesse quesito, portanto há de se levar todos esses quesitos em conta quando se faz uma crítica.

Também já observo aqui que não irei dar uma sinopse breve sobre os curtas, pois o tempo exímio de cada um pode não ser aproveitado em sua máxima capacidade caso o espectador vá vê-los já sabendo dos seus minutos iniciais.

A lista que segue está em ordem de exibição apresentada dentro do longa.

Quarentena Sem Fim, de Fabrício Bittar (Brasil)

Fabrício Bittar provavelmente seja o mais reconhecido dos nomes envolvidos nesses curtas, pelo seu envolvimento como diretor e roteirista nos recentes Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola, de 2017 e Exterminadores do Além Contra a Loira do Banheiro, de 2018.

O curta apresenta um belo time lapse de notícias apresentando a evolução da doença pelo mundo e se foca nas interações, agora diferentes, durante o confinamento. Explora uma visão pessimista e sem esperança dos personagens e um desfecho que surpreende em sua criatividade e imprevisibilidade. Destaque para as atuações aqui de Kael Studart e Isabela Mariotto.

O Último Dia, de Guillermo Carbonell (Uruguai)

Um dos mais curtas dos curtas, também me agradou bastante em sua simplicidade em contar os detalhes e na vertente explorada no seu final.

Estúpidemia, de Junior Larethian (Brasil)

Abaixo do padrão apresentado durante os 13 curtas, se destoa pela sua baixíssima qualidade de atuação e de variedade narrativa. Não consegui encontrar nenhuma justificativa para as escolhas feitas pelo roteiro e pelos personagens. Aqui um exemplo de um ataque desnecessariamente insistente e sem inspiração à situação política no país, há uma tentativa de explorar um tema pertinente, contudo, sua execução não leva o público a pensar no tema, apenas a ver rasas críticas a ele.

Baldomero, de Martín Blousson (Argentina)

O meu favorito dos 13, aqui o público tem uma experiência de desconfiança, suspeita e surpresa, uma definição de uma piada visual brilhantemente executada, montada e encaixada perfeitamente na situação atual que vivemos.

Jérôme: Um Conto de Natal, de Beatriz Saldanha (Brasil)

 

O mais “fora da casinha” dos curtas, o seu absurdo em questão a veracidade é o que pode levar à divisão de opiniões. No que eu vi, o curta não se leva a sério a ponto de tentar uma justificativa plausível de “mundo real” para suas escolhas, esse abraço ao imaginário me agradou bastante, além de contar com o melhor personagem dos curtas em atuação, o gato Jérôme.

Eclosão, de Alejo Rébora (Argentina)

Outro também que explora o quesito fantasia, aqui há mais uma exploração de um mistério transcorrido durante a história. Regado de pontos místicos, achei sua conclusão esperada, ainda que tenha me faltado uma justificativa maior para seu acontecimento. Me parece apresentar alguns pontos a mais do que o necessário, o que pode levar a uma distração do espectador. Levou o prêmio de melhor curta internacional.

A Mancha na Parede, de Daniel Pires (Brasil)

Apresenta o recurso de narração como única forma de comunicação entre o personagem e o público. Explora uma vertente mais direcionada ao terror, e o mistério nele envolvido. Sua narrativa deixa o público em dúvida em relação a literalidade dos acontecimentos ali apresentados, o que corrobora para o sentimento de expectativa para respostas tão explorado por esses gêneros de terror e suspense.

Algumas tomadas envolvendo sombras e luzes dentro de um espaço confinado de uma casa me lembrou o curta Lights Out, de 2013 dirigido por David F. Sandberg, adaptado para um filme homônimo em 2016, pelo próprio Sandberg.

Pique Esconde Macabro, de Julio Napoli Filho (Brasil)

Em questão de algumas tomadas de cenas e em atuação, se apresenta abaixo do padrão dos demais curtas. Aqui uma história previsível em um conto de “gato e rato” que em nenhum momento é justificado. Como ponto positivo, e muito, há um louvável uso de efeitos práticos e sonoros, convincentes dentro das limitações impostas.

Barata, de Emerson Niemchick (EUA)

Um exemplo de gravações acima do padrão apresentado na antologia, com uso do preto e branco, aproveita em sua demonstração diferente de luzes e sombras permitidas na ausência de cores. Sua narrativa é a única que levanta alguns aspectos da sociedade revelados durante essa pandemia, como capitalismo, karma e a mudança de prioridade perante alguns objetos imposta pelo confinamento.

Às Vezes Ela Volta, de Matheus Maltempi (Brasil)

Um dos pontos positivos dessa antologia, aqui acontece todo o desenvolvimento durante a tela do PC (artifício muito utilizado nessa antologia). Baseado em um mistério intrigante e um desfecho que abre uma vertente diferente explorada com eficiência pelo curta. As atuações de Alessandra Matta e de Giovana Telles aumentam o nível narrativo do curta, deixando o espectador dentro da história e facilmente instigado pelo seu mistério. Foi premiado no festival como o melhor curta nacional.

Desenterrado, de Karl Holt (Reino Unido)

Sem falas, há também uma exploração da vertente terror, focada no mistério. Criativo na sua execução, se utiliza muito bem das locações limitadas, o que deixa a história com mais impacto, por ser mais relacionável ao público. O uso de efeitos práticos de terror e visuais são apresentados de maneiras convincentes e contribuem muito para a boa levada da narrativa.

Psicopompo, de Giordano Gio (Brasil)

Aqui um exemplo de uma crítica política atual bem apresentada, com edição e montagem que corroboram à boa execução em geral do curta. O único que explora vertentes com viés histórico, filosófico, apocalíptico e até mesmo religioso, totalmente pertinente à situação que vivemos. Dá ao público uma conversação em escala maior que estamos acostumados. Um dos pontos altos da antologia.

Roleta Russa, de Andreas Kyriacou (Chipre)

Também acontecendo dentro da tela do computador, o curta recompensa a atenção aos detalhes. Uma narrativa que aproveita todos os segundos que lhe é dada, trabalha questões pessoais e também do uso do entretenimento durantes os tempos de isolamento. Sua história linear acontece “em tempo real” e se encerra com um plot twist agradável. Um belo curta para encerrar a antologia.

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