Confronto No Pavilhão 99
Recomendação fílmica do momento: Parece que o nome nacional é “Confronto no pavilhão 99”, mas eu chamaria de “Treta na cadeia”, pois já traduz bem a pegada da fita.
O diretor, S. Craig Zahler, fez apenas mais um filme, cuja premissa soa suculenta, com o sensacional Kurt Russell (ainda não vi). Trata-se de um western de horror com índios canibais, “Rastro de Maldade” ou “Bone Tomahawk”, de 2015. Ele também toca bateria em duas bandas, uma de heavy e uma de black metal, já demonstrando que é subproduto da cultura pop malvadinha, como boa parte das gerações pós 1960.
Indo a obra em sí: Vince Vaughn faz um PROLETÁRIO COITADINHO explorado pelo ocidente meritocrático malvadão, que perde o emprego. Com problemas no casamento, e ansioso para melhorar de vida (e ansiedade faz as pessoas tomarem decisões ruins) resolve fazer dinheiro rápido com contatos insalubres.
Em uma transação que da errado, acaba se envolvendo numa situação que exige resolução urgente. Solução essa que será encontrada via cenas muito bem planejadas e estratégicas de violência cinematográfica e irreal, que levam aos pontos de virada necessários para a resolução, conforme o personagem faz uma espécie de jogo de xadrez sociopata para chegar onde precisa dentro do sistema prisional.
Vaughn tem que lutar contra o relógio: Ou ele cumpre uma missão que lhe foi dada dentro da cadeia, descendo pelos círculos do inferno penal até chegar a seu nêmesis final, ou a única coisa pura e inocente da sua vida irá pagar.
Assim estão estabelecidos conflito e cenário, neste filme que combina elementos de Tarantino, Martin Scorsese, Don Siegel e seu “Fuga de Alcatraz”, e dramas sobre crime e exploitations setentistas em geral. Tudo com o visual nítido, claro e digital do cinema contemporâneo.
Filme muito bem construído para o andamento dos dias atuais. Boa edição. Boas cores na direção de arte. Bons atores. Violência exagerada chegando ao caricato como já está no cinema faz um tempo, mas tudo bem. E inclusive creio que a cena final tem um exagero no efeito de explosão que é proposital. Talvez uma homenagem aos anos 80? Meio Cronenberg. Tomada rápida e sugestiva com uma prótese que parece de borracha.
Cristianismo do personagem apresentado via sua tatuagem frequentemente enquadrada, absolutamente coerente com seu código moral, o que o diferencia dos bandidos. Essa discussão moral é indicada literalmente por um policial, durante a narrativa.
Uso esparso e comedido de trilha sonora, trilha essa que é evocativa e tensa quando presente. Roteiro com pontos de virada claros e que vão direto a crise. Representação naturalista e crua dos personagens. Excelentes tomadas descritivas, mas que não entendiam.
Bom retrato de alguns aspectos do sistema prisional, demonstrando a admissão dentro da cadeia como um processo no qual você cada vez mais perde camadas de liberdade. A começar pelo último dia livre, a ida à cadeia, a entrada no corredor para entrega de objetos, etc. Tudo muito realista, frio e desesperançoso.
Excelentes participações de Udo Kier e Don Johnson!
Diversão garantida. Craig Zahler promete. O diretor parece saber o que faz, tem um estilo próprio calçado nos anos 70, gosta de violência estilizada de moleque de classe média que cresceu vendo filme trash e não tem ideia do que é sofrimento na vida real, sabe preparar bem conflitos e cenas. Acima de tudo é um diretor que consegue fazer um filme longo e não entediante. Feito com a câmera Red, o que da a imagem uma textura particularmente moderna. Nota 7,8. – Joaquim Ghirotti
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